Troco
facilmente uma noite pelos bares da cidade
por
uma noite a escrever
O
curto momento onde o Eu está comigo “mesmo” fingindo ser outro
Troco
toda efemeridade de noites vazias pela profundidade das palavras
Tortas,
calejadas, marcadas de historicidade.
Falar
sobre temas já falados como amor, dor, solidão
amizade,
ciúme, paixão
Falar
sobre a liberdade do homem!
Sobre
o pensamento...
Se
é que existe outro lugar onde o homem é realmente livre
eu
não conheço.
Talvez
em um picadeiro anarquista em um palco esquizofrênico,
mas
não.
Não
acredito mesmo que a real noção de liberdade transcenda ao pensamento.
Basta
que nós, domados por nós mesmos, libertemo-nos
Basta
que nos afastemos de toda a prisão domiciliar existente
afastemo-nos
das redes e conexões,
do
emaranhado de sinapses,
Afastemo-nos da mecanização do homem.
Para
obter, enfim
A
liberdade.
Temos
instantes de escrita, voz,
temos
instantes de humanização na humanidade
onde
nossa presença se faz realmente presente.
E
nesse breve momento
Estamos
amarrados.
Correntes
de âncora nos prendem ao pé da cama
Incessantemente
tentamos cerrar elo por elo
da
imensidão estrutural ao invés de apenas cerrar o pé da cama
madeira
envelhecida, quebradiça,
imperceptível.
A
impossibilidade se faz e a liberdade foge de nosso ser
antes
mesmo de chegar à boca.
Foge
e corre como uma criança que não conhece as maldades do mundo
mas
que não aceita doce de estranhos.
Foge
rapidamente para onde ela possa se fazer presente novamente.
Vai
para o pensamento de muitos outros,
Amantes
calados
poetas
para
o pensamento dos solitários.
Foge
para o pensamento daqueles que aproveitam o pensamento
E
escorre em uma fluidez muito pouco tensionada
Escorre
para outros enquanto o homem se faz máquina
E
nesse momento incessante
Maquinarização,
amarra
Humanização,
amante
Um
som de ferrovia invade a alma
e
nos lembra, novamente
de
nossa sofreguidão,
De
nossa ânsia por liberdade
Fluida
que
escorre por palavras,
armadilhas sociais
silábicas
e sedentas e saturadas.
Armadilhas
instauradas
Um
prego para cada braço e um para os pés
E
a contemporaneidade repete de forma sutil o ritual
É
o preço por tentar a liberdade em um mundo
onde
os pensamentos se transformam em palavras
e
as palavras se transformam em um mundo
É
o preço de tentar a liberdade em uma palavra
onde
o mundo se transforma em palavras
e
as palavras se transformam em pensamentos
Espero
apenas o dia em que o silêncio marcará a liberdade
Enquanto
isso seguimos
Em
bares, em noites de escrita
em
bons sorrisos, e choros marcantes.
dia
após dia
com
a consciência de nossas amarras, a invisibilidade do pé da cama
Sempre
transformando
homem
em máquina, máquina em homem
E
com medo do porvir.